:: Pra quem não namora ::


Todo ano, a mesma coisa. Você se esforça, sai à noite, se produz, tenta de tudo, mas não adianta: aquela pessoa que você tanto procura parece que não existe ou, se existe, está procurando qualquer outra pessoa, menos você. Pra quem não namora, o dia 12 de Junho, mesmo que caia numa segunda ou sexta-feira, não é um dia ÚTIL; é menos um dia no calendário; é um dia não-dia — um dia em que as pessoas sentem mais intensamente o vazio que está dentro delas. Estranho…pois não deveria ser assim.

Se existe alguma conclusão fixa a que eu possa ter chegado, depois de alguns poucos anos de vida, é esta: não tente conhecer outro alguém se você não conhece a si mesmo o bastante. Tempo em que se fica solteiro não é tempo perdido. Pelo contrário. É oportunidade de conhecer mais a si mesmo. Suas qualidades, seus defeitos, suas virtudes, seus vícios. Em que você pode melhorar, se aperfeiçoar. O que você pode fazer para valorizar mais suas amizades — afinal, ficar solteiro está longe de ser o mesmo que ficar sozinho. Solteiros, sim! Sozinhos, nunca! Tempo em que se fica solteiro, mais do que qualquer outro, é tempo de solidificar amizades e, sobretudo, de fazer um estudo de si mesmo.

Triste é perceber que, hoje, as pessoas estão com medo de se autoconhecerem. Evitam, a qualquer preço, se auto-ouvirem. Passam as suas vidas tentando encontrar, em outra vida, a razão do seu viver. Mário Quintana, num cenário como esse, simplesmente diria: “Não corra atrás das borboletas. Cuide do seu jardim que elas virão até você”. Talvez seja exatamente isso que está faltando nos dias de hoje. Dê mais atenção a você; dê mais tempo a você. Perfume-se. Permita-se florescer. O resto é consequência.

Não vou dizer que ficar sem namorar é fácil ou desejável, até porque hipocrisia não faz o meu gênero. Não namorar é lutar, é relutar contra a própria natureza, contra o próprio impulso humano de se entregar de corpo e alma a quem se ama. E, por ir contra a algo intrínseco ao ser-humano, é um processo doloroso. Contudo, o fato de ser doloroso não quer dizer que, necessariamente, tenhamos que sofrer. Como dizia Drummond: “a dor é inevitável. O sofrimento é opcional”. 

 A dor advém de fatos inerentes à vida, quer queiramos, quer não. Já o sofrimento nada mais é do que aquilo que fazemos com a nossa dor. É como se a dor fosse apenas uma semente. Se nós a alimentarmos e regarmos todo dia em terra fértil, ela crescerá e se desenvolverá, até o triste dia em que ganhará sustentáculos e criará profundas — e quase irremovíveis — raízes. Se você deixar esse dia chegar, o sofrimento terá tomado todo o seu coração. Uma metástase emocional.

Por isso, não faça do seu coração – e da sua mente – um terreno propício ao cultivo da dor. Não a alimente em hipótese alguma. Não confunda dor com sofrimento. Não confunda estar sem namorado com perda de tempo. Não confunda ficar solteiro com ficar sozinho. Dê mais ouvido ao silêncio que brota de dentro de você. E mesmo quando encontrar o amor da sua vida – ou se já o tiver encontrado —, você precisará continuar cultivando o seu jardim dia após dia, para que aquele leve e suave perfume nunca deixe de exalar de suas flores. Só assim o amor poderá renascer, a cada novo amanhecer, de maneira plena.

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